Artigo – Municípios do Sul da Bahia extremamente vulneráveis diante da tragédia ambiental do óleo no litoral brasileiro
Por: Rui Rocha é professor da Universidade Estadual de Santa Cruz e presidente do Instituto Floresta Viva.
Com fortes limitações para enfrentar o problema, os municípios tentam liderar localmente esforços para conter o derramamento de petróleo na costa do Sul da Bahia. Desde o dia 16 de outubro, notícias do aparecimento de óleo em linha de pesca a poucas milhas da costa do arquipélago de Tinharé foram o sinal de que o risco do óleo chegou a sua última fronteira, ao sul da Bahia de Todos os Santos. Com correntes e ventos de nordeste, o óleo alcançou Guarapuá, Boipeba e Barra Grande, e em seguida Itacaré, Ilhéus e agora alcança Canavieiras e Belmonte, sendo Porto Seguro e em seguida Abrolhos as próximas áreas de risco.
Em reunião no dia 29 de outubro de 2019, na sede da Associação dos Municípios da Região Cacaueira, municípios como Cairu, Valença, Taperoá, Nilo Peçanha, Ituberá, Igrapiúna, Camamu, Maraú, Itacaré, Uruçuca, Ilhéus, Belmonte e Canavieiras estão tentando apoiar grupos de voluntários, equipes de funcionários, proprietários e moradores, em cooperação com o corpo de bombeiros, técnicos do Instituto Estadual de Meio Ambiente, Ibama e a defesa civil do Estado da Bahia.
O volume do óleo, inicialmente na forma de pixe sólido e em pequenos volumes, se ampliou nos últimos dias e demonstra agora o mesmo volume e viscosidade que alcançou a costa de Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Além do óleo que chega nas praias, se visualiza também no ambiente dos corais grandes volumes submersos.
A Associação dos Municipios da Região Cacaueira e o Consórcio Intermunipal da microrregião de Valença – CIAPRA, recebeu na reunião o superintendente do IBAMA da Bahia e detectou a vulnerabilidade pela não implementação de uma agenda integrada para conter o avanço do óleo na costa – que envolve:
-Orientação técnica adequada para enfrentar o problema
-Disponibilização de EPIs e logística de apoio na retirada do material coletado
-Apoio aos voluntários e equipes técnicas na retirada do material
-Comunicação expressa para evitar o banho nas praias sob contaminação
-Exame químico da balneabilidade das águas
-Exame do pescado e mariscos produzidos na região
-Suprimento de alimentos e bebidas para equipes em campo
-Esforço de contenção do óleo nos estuários e ambientes coralíneos, se possível antes de alcançarem a costa ou os manguezais.
-Preparação de medidas para atender as comunidades pesqueiras e fazer frente ao verão, quando a região recebe centenas de milhares de turistas.
-Comunicação com a mídia em tempo real para orientar a força tarefa que está agindo voluntariamente na retirada do óleo.
Em síntese, há um clamor pela imediata implementação do Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo (PNC), com suporte adequado à escala do problema vivenciado desde o final de agosto. Os esforços realizados até aqui, com recursos escassos, põem a região inteira em estado de emergência ambiental e social.